"Não conseguimos fazer educação sem ser"

"Educar é um ato político, não é neutro, não pode ser. Porque estamos a educar cidadãos, que vão ser pessoas que vão votar, que vão ser pessoas que têm de ter consciência do que é isto de viver em democracia." É esta a convicção de Lara Custódio, Psicóloga Educacional e Educadora de Infância, autora da página "Assim se Cresce" (Facebook e Instagram) e entrevistada de hoje na Rádio Smart Play.
Segue a abordagem Reggio Emilia, com a qual se identifica em exclusivo: "É uma forma de ver a criança, de ver o adulto, de vivência, que depois é transportada para a vida quotidiana", explica.
É impossível não sentir nas suas partilhas a paixão que coloca em tudo o que faz. E, é muito fácil, imaginá-la sentada no chão, rodeada de crianças a quem está a permitir "encantar-se com a vida", enquanto conversam, contam novidades ou falam sobre um projeto que estão a desenvolver.

"Estamos a crescer juntos", conclui, acrescentando que "elas já perceberam que eu acho tudo interessante". E por isso, já são as próprias crianças que a chamam a reparar nas suas observações ou descobertas. "Tem tudo a ver com a nossa visão de uma criança. Elas são pequenas, mas já têm conhecimento de vida, muitas ideias, muitos pensamentos. Eu só tenho que os aproveitar e fazê-los pensar ainda mais sobre isso. Mas não quebrar logo o mistério da vida".
Todos os dias tem propostas para brincar e trabalhar em pequenos grupos, na sala ou na rua. Apesar das limitações. E para além das limitações, porque as rotinas nem sempre permitem esta liberdade de fluir.
E, os resultados já começam a ser visíveis. Iniciou com este grupo no ano passado, mas já os sente muito mais curiosos e despertos para o mundo que os rodeia.
Ao final do dia, quando fecha a porta, sai cansada, carregada de sacos e de aprendizagens para o dia seguinte, e sempre com a escola no coração.
A abordagem Reggio Emilia
Começou no pós II Guerra Mundial, em Reggio Emilia, na Itália, quando as mulheres se uniram para que a reconstrução da povoação tivesse inicio pelas escolas. A abordagem educacional foi participada e democrática, resultando numa escola integrada na comunidade que valorizava os alunos individualmente, acreditava que as crianças são capazes de conduzir a própria aprendizagem e onde a construção do conhecimento assentava na troca de ideias, permitindo, mais uma vez, uma base democrática de participação.
Loris Malaguzzi, pedagogo e professor ficou tão fascinado pelo trabalho daquela comunidade e pela forma participada como encaravam a educação que rapidamente se juntou a eles, sendo considerado o pai da abordagem Reggio Emilia.
Como não existe um currículo estanque, anualmente são definidos os projetos que virão a estruturar o trabalho, sempre com base nos pressupostos de respeito, responsabilidade e participação na vida comunitária, dando à exploração, descoberta e criatividade das crianças o papel principal. Ao professor cabe observar e pesquisar, respeitando as escolhas das crianças e ajudando-as a refletir sobre essas escolhas.
Esta abertura à participação mantém-se ainda hoje e continua a dar voz a todos os intervenientes que de alguma forma se relacionem com a escola, desde os coordenadores aos cozinheiros.